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Sustenho a respiração.

De que outra forma se começa algo?

Não sei para onde vou. Sempre me vi num barco à deriva.

Sustenho a respiração. Sim.

Balanço-me no último suspiro.

Como as migalhas de chocolate que restam.

Desapareceu como tudo desaparece.

Fica a memória no papel que, em breve, irá para o lixo.

Amanhã não me lembrarei mais deste.

Nem do seu gosto. Nem do papel. 

O papel é o menos importante no que toca ao chocolate.

A memória joga assim.

Brinca.

Como chocolate para me recordar da infância ida.

Da inocência substituída.

Das cores que entretanto desbotaram.

Das ondas do mar infiltradas na areia.

Para onde foram?

Respiro. Longamente. Respiro.

Sou mar.


1 comentário:

antónio ganhão disse...

Todo o ar que respiramos um dia foi mar, veio das suas profundezas consumir-se em nós. A deriva não é a ausência de rumo, apenas um lento e prazeroso espreguiçar.

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